Estar com os filhos no meio do nada, para falar de tudo

9 Jul 2020

Já vos apeteceu querer estar no meio do nada, para falarem de tudo?

A mim acontece-me tantas e tantas vezes. Imagino-me sentada ali, rodeada dos meus filhos, a abrir-lhes o meu coração, como se fosse um gesto essencial à sobrevivência.

Às vezes, em casa, a andar na rua, a conduzir, as palavras chegam-me, seja através de músicas, de uma leitura, de um filme, de uma formação, de um podcast… Vejo-as ganhar forma, vida. Imagino os meus gestos, a projeção e a intensidade das palavras a saírem de mim. Algumas palavras vão sendo apontadas em livros, outras em simples folhas da agenda. Resta-me ainda, e felizmente, o meu arquivo principal, a memória. 

Gosto de lhes dizer, aos meus filhos, que não tenham medo de ser diferentes, que os rótulos que a sociedade criou durante milhares e milhares de anos, não passam disso, de rótulos que se podem dissolver com um simples gesto. Da mesma maneira que dando-lhes forma, se podem tornar verdadeiros pesadelos. 

Gosto de lhes dizer, todos os dias, que o amor é o protagonista. E quando for o amor… Será tudo, certamente, melhor. Há dias ajudei um senhor, numa qualquer loja - as tecnologias ainda não são familiares para todos. Olhou-me nos olhos - até porque agora as máscaras dão-nos fortemente essa possibilidade - e disse-me: “Acredito que em qualquer lugar que estamos, há sempre alguém disponível para nos ajudar”. Estou tão de acordo.

Na melhor definição, estar com os nossos, neste caso filhos, é viver o momento. Claro que nem sempre é fácil. Temos a mania que não temos tempo e que há sempre tantas coisas a que temos de dar resposta. Quando ajo assim, algo que me traz à razão, nem que não seja horas depois. Fico ali a pensar, podia ter “estado” com eles. 

Recentemente, li uma passagem, num dos livros da Mikaela Övén, que me fez mudar ainda mais o meu dia. Algures diz que uma intenção não é um objetivo, até porque um objetivo tem sempre uma intenção por detrás. Por exemplo: “Quero estar mais tempo com os meus filhos”. Isto é um objetivo. Já a intenção vem sempre do coração, porque contém sempre um propósito e uma emoção. Poderá significar que quero sentir-me mais feliz, mais perto deles. As intenções ajudam-nos a ficar mais alinhados com a vida.

Vou agora regressar àquele lugar no meio do nada, para falar de tudo. E vou dizer-lhes:

“Usem os vossos valores”.

“Pensem diferente”.

“Tenham as vossas ideias. Usem a vossa criatividade”.

“Estudem. Ouçam o vosso coração. O mundo está à vossa espera”.

“Sejam felizes”.

 

Às vezes, com eles, embora não esteja sentada, estou no meio do nada e falo um pouco de tudo. Também vos acontece?

 

Luci Pais

Mãe | Marketing e Comunicação