Quais são os aspetos chave para uma vida saudável, feliz e produtiva?

20 Mar 2019

Esta informação é muito importante para a sua saúde. Ao tomar consciência poderá optar de forma mais adequada e cuidar melhor de si mesmo e dos que o rodeiam.

 

As respostas de mais de 5 décadas de investigação

 

Hoje vivemos mais e melhor. Do século XIX para o século XXI duplicamos a esperança média de vida. A evolução da medicina e da tecnologia permitiram o combate às doenças transmissíveis provocadas por vírus e bactérias. Fomos ganhando a “guerra” contra os micro-organismos mas com isso foram surgindo novos desafios. Segundo Johnson e Acabchuk, num artigo publicado em novembro de 2017 na revista Social Sciense & Medicine, este combate tem tido algumas consequências, estando a provocar o aumento de doenças auto-imunes e alergias. Por outro lado, o aumento da esperança média de vida e o aumento do sedentarismo e má alimentação têm contribuído fortemente para uma série de doenças crónicas a que se deu o nome de Doenças Não Transmissíveis. Hoje estas doenças são responsáveis por mais de 70?s causas de morte no mundo. Incluem 4 grandes tipos: Doenças Cardiovasculares, Cancros, Doenças Respiratórias e Diabetes.

 

Com isto não o queremos assustar, apenas que tome consciência do problema de forma a que perceba melhor quais as soluções para ter uma vida mais saudável e mais longa. É possível combater o aparecimento de tais doenças através de estratégias simples como o aumento da atividade fisica ou uma boa alimentação. Mantenha-se calmo, respire fundo. A informação que estes autores nos trouxeram é realmente muito importante.

 

O problema das doenças crónicas relacionadas com o estilo de vida está a aumentar consideravelmente, colocando maior pressão financeira nos sistemas de saúde, podendo mesmo torná-los insustentáveis. Em 2014, 16 milhões de pessoas morreram prematuramente, antes dos 70 anos de idade, por causa destas doenças, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

As boas noticias são que estas mortes causadas pelas doenças não-transmissíveis podem ser reduzidas significativamente, segundo informação avançada pela OMS em 2015, através de politicas que promovam a redução do consumo de tabaco, álcool, de determinados alimentos (com excesso de sal ou açúcar), promovendo a atividade física e melhorando os cuidados de saúde. No entanto o sucesso desta estratégia passa essencialmente pelo próprio individuo, pela sua opção por um ESTILO DE VIDA SAUDAVEL. É fundamental que compreenda estes fenómenos de forma a que ao lhe fazerem mais sentido possa optar de forma a ter uma vida mais saudável. A mudança do comportamento da população no geral é a chave para a redução desta “epidemia” das doenças crónicas relacionadas com o estilo de vida.

 

 Para que perceba melhor...

 Nos últimos séculos a medicina considerava a doença como uma perturbação da sistema biológico. Para haver doença havia uma lesão ou doença nos tecidos/células. Nas últimas décadas evoluímos desta visão mais biomédica para uma visão mais integradora, biopsicossocial.

O que é que isto quer dizer? Será que a doença não é sempre causada por perturbação dos tecidos? Corrigindo ou curando a perturbação não garante o retorno á saúde?

Os psicólogos da saúde têm vindo a argumentar que a relação diretamente proporcional entre a doença e saúde é uma falsa assunção. Os fatores psicológicos, sociais e ambientais interagem diretamente nesta equação, podendo mesmo provocar, agravar ou manter as doenças de etiologia biológica. Curar a doença não garante o resultado positivo assim como nem sempre a melhoria da condição de saúde se pode explicar pela melhoria do estado dos tecidos.

É nesta interação bio-psico-social que aparece o stress. Este resulta da vivência dos factores stressantes como o trauma, a descriminação, a pobreza..., e da habilidade da pessoa para lidar com ou recuperar desses stressores. Esta habilidade é influênciada por fatores externos (contexto, apoio social) e por fatores internos (genéticos, personalidade, resiliência, auto-estima,...).

Os autores sugerem que a pessoa fica mais suscetível para a doença quando está exposta a stress prolongado, provocando um desequilíbrio neuroendocrino, imunológico e do sistema nervoso autónomo. Esta perturbação afeta o corpo a vários níveis assim como altera o comportamento, estado de humor, estado emocional e capacidades cognitivas. A interação é bidirecional e muito complexa.

De forma similar as adversidades sociais como a pobreza, baixo nível de educação, falta de suporte social ou desemprego aumentam o risco de doença crónica através do efeito inibidor do sistema imunitário e facilitador dos processos inflamatórios, aumentando o risco de desenvolvimento das doenças crónicas e assim mortalidade precoce.  

 

Então qual a solução?

Nos últimos anos têm emergido propostas, baseadas na evidência científica, para a adoção de um estilo de vida saudável. Estas incluem a alimentação adequada, a prática da atividade física, o descanso adequado (quantidade e qualidade do sono e ritmo de vida adequado), boa gestão do stress (enfase no bem-estar mental), moderação no consumo de álcool e cessação do consumo de tabaco e outras substâncias que prejudicam o estado de saúde. Esta é a estratégia para prevenir, tratar e potencialmente reverter as Doenças Crónicas Não Transmissíveis.

São defendidos programas para o treino das competência em lidar com as adversidades, promovendo a resiliência, estratégias cognitivas e emocionais (inteligência emocional), treino da auto-eficácia, melhoria do suporte social e das ligações familiares.

É defendido que o apoio social (laços familiares, de amizade e comunitários positivos) é o elemento chave para ter uma vida mais saudável, mais longa, mais produtiva, com mais qualidade, e, mais feliz. “Genes are nice, but joy is better”.

Os eventos stressantes podem ser inevitáveis, no entanto a forma como os vivemos, como os percepcionamos, como lidamos com eles têm uma influência enorme no impacto que estes têm na saúde. Distorcer os factos, andar sempre a mastigar o problema, dar enfase, fazer filmes, catastrofizar, podem tornar o evento stressante com muito maior impacto, contribuindo para o stress crónico. Com as estratégias de coping adequadas, com uma boa gestão das emoções, controlo dos impulsos, resignificação cognitiva do evento stressante, o impacto na saúde será muito menos acentuado.

As relações são outro aspecto chave na determinação da saúde. Relações mais próximas e positivas mantêm-nos mais felizes e saudáveis.

 

Resumindo... o segredo para ter uma vida de sucesso é...

Desenvolver a sua inteligência emocional, resiliência, capacidade de aceitação; dedicar-se ao que mais o motiva, a aprender e aos outros; construir e manter relações próximas e saudáveis; ter uma ampla rede de suporte social, preferencialmente com sensação de pertença a uma comunidade; dar atenção ao que o rodeia, aos outros e ao momento presente; ter hábitos de vida saudáveis que incluem a alimentação, prática de atividade física, descanso em quantidade e qualidade adequado; e, ter um sentido de propósito na vida.

Para nós profissionais de saúde, é nosso papel reduzir o enorme problema de saúde publica, as Doenças Cronicas Não Transmissíveis. Para tal é fundamental promover uma mudança nos comportamentos da população, estimulando a adoção de um estilo de vida saudável. A sensação de bem-estar, de florescimento interior, é essencial para uma vida mais saudável, mais longa, com melhor qualidade e mais feliz.

Marco Clemente 

 

Este texto foi escrito tendo por base o artigo: bit.ly/Vida_mais_feliz

Outro artigo que se relaciona e que poderá ler para estar mais por dentro da problemática:https://observador.pt/2017/09/18/oms-pede-mais-esforcos-para-combater-doencas-nao-transmissiveis/