TOPAS!?


15 Nov 2018

Vivemos num tempo em que as tarefas e atividades são tantas que não sobra espaço para “não fazer nada”. Mesmo os nossos jovens já correm de casa para a escola, da escola para o inglês, para as explicações, para as atividades desportivas e, ao voltar para casa, já tarde, ainda têm de fazer os TPCs, arranjar a mala, arrumar as suas coisas, estudar estudar estudar, tomar banho, jantar e, finalmente, descansar nos 30 minutos que restam. Se quiserem um pouco mais desse tempo sem nada para fazer têm de o subtrair ao tempo de sono, com todas as implicações nefastas que isso tem ao nível da atenção, do humor, da capacidade intelectual e da saúde.

Precisa-se: tempo livre não estruturado, onde o descanso e a criatividade ganham espaço.

28 anos depois da introdução do conceito da Inteligência Emocional ainda estamos a usar e abusar da lógica do centenário conceito de Inteligência Cognitiva (QI). Hoje sabemos que para um desenvolvimento saudável os jovens precisam de muito mais do que das suas capacidades cognitivas. A descoberta de quem são, do que gostam e não gostam, dos seus pontos fortes, o desenvolvimento da auto-estima e exploração do corpo e das suas emoções, o pensamento crítico sobre os mais variados temas, a exploração da sua motivação, a vida social, a construção e vivência presencial das relações, o tempo livre para pensar, criar, descansar, brincar.... são absolutamente fundamentais para o desenvolvimento saudável dos jovens. Mas onde encaixamos isto? Onde está o tempo para estes aspetos mais do que fundamentais?

Com os muitos estímulos a que os jovens estão sujeitos, torna-se difícil treinarem a sua competência de prestarem atenção. Sem tempo para si e sem capacidade para se focarem, o resultado é a completa dispersão, desorientação e progressivamente mal-estar mental. Hoje ¼ dos jovens sofrem de depressão. Os números de jovens que consomem algum tipo de medicação é assutador.

Urge dar Tempo para Observar e Prestar Atenção Sem pressas: TOPAS!?

Porque não guardar um tempinho sem nada planeado onde a família escolhe no momento o que quer fazer, juntos. Porque não guardar 30 minutos no final do dia para conversar sobre o dia ou discutir temas específicos relacionados com as emoções e a vida social (SEL – Social and Emocional Learning). Porque não marcar na agenda o tempo livre, aquela em que o conteúdo é nada. Porque não praticar 3 minutos de meditação por dia ou simplesmente treinar a respiração lenta e profunda várias vezes ao dia. Porque não implementar o momento da gratidão: o momento em que se agradecem 3 coisas boas que aconteceram no dia. E, para não continuar a enorme lista de possibilidades, porque não de vez em quando recordar alguns bons momentos já vividos em grupo de amigos ou em família.

9h de sono, períodos de repouso consciente ao longo do dia e a prática da atenção plena são essenciais para o crescimento saudável dos nossos jovens. Fica a sugestão! ;)

Marco Clemente